quarta-feira, setembro 19, 2007

UBALDO IRRETOCÁVEL, ESPETACULAR

Caramba, a gente tem de tirar o chapéu para esse sujeito. Há dias estava com uma coisa na cabeça mas não estava encontrando as palavras nem a certeza se o que elas transmitiriam seria algo que faria o sentido que eu pretendia. E hoje, abrindo a caixa postal, lá estava, pronto e acabado, espetacularmente didático e cristalino, o raciocínio que eu "arrodeava mas não 'garrava", ou antes, precisava, mas não fui capaz de deitar. Minha desconfiança foi parida sem fórceps pela pena do cara. Atentem para o quarto parágrafo e me digam: não é um gênio? Enfezado, então, vale por dois. Espetacular!

18/09 - O golpe já começou
Por João Ubaldo Ribeiro
Jornal "O Globo"


"Vocês vejam como, em volteios e ironias, a vida nos dá constantes lições de humildade. Faz poucas semanas, argumentei aqui que não havia golpismo nenhum no Brasil, a não ser numa cabeça desvairada ou outra. Gira o mundo, passam os dias, e agora me encontro na obrigação de engolir minhas palavras. Fosse lá no bom sertão de onde vem o dr. Renan Calheiros, talvez um coronel me obrigasse a literalmente comer o jornal, como é de veneranda tradição regional. Pois não é que, num relampejo deflagrado pela Providência, numa reprodução modestíssima do estalo de Vieira, acaba de me aparecer com grande vividez toda a verdade, em sua nudez tão clara quanto imunda? Mas é obvio que há golpismo, como asseveram os governistas. Mais que isso, o golpe já está se desenrolando, com uma sorte e uma maestria sem rivais.

Só que o pessoal, o que, nas circunstâncias, é perfeitamente desculpável, esqueceu de falar que o golpe não vem do lado de cá, dos descontentes com eu e muitos outros, até mesmo a odiosa Zelite, que, aliás, vai se dar bem, como sempre, golpe ou não golpe. O golpe é do governo mesmo. Sei que com esta afirmação me arriscaria a ser acusado de calúnia. Mas não é calúnia, porque está tudo tão bem feitinho, tão arrumadinho, vai ser tudo tão dentro da lei e do apoio popular, que, ao dizer que o governo está dando um golpe, não o estou - o que caracteriza calúnia - acusando de crime, estou é achando esse pessoal sabido que é danado.

Jornal é lido por gente de todo tipo e me desculpo com aqueles que já sabem o que vou resumir simplificadissimamente. O Brasil tem um sistema bicameral, a Câmara de Deputados e o Senado Federal. A Câmara representa a população e, portanto, os Estados mais populosos tem mais deputados. Para evitar que esses Estados dominem o inteiramente os minoritários, o Senado tem um número igual de membros para cada Estado. E cumpre funções importantíssimas em nosso sistema. Entretanto, o dr. Berzoini, outro dia, praticamente declarou como projeto do PT a extinção do Senado. Sendo a cabeça do PT em São Paulo, a coisa ficaria muito facilitada, se não houvesse o Senado.

Agora, num julgamento que se pode rotular de clandestino, malocados como bandidos numa cafua em que a atmosfera mais se assimilava a uma reunião de Cosa Nostra com direito a porrada na entrada, os senadores, escondidos do povo que desrespeitam, envergonham, enganam, furtam (ponha aí o "raras exceções" de praxe, por favor, pois cá me impede momentaneamente a náusea) e atraiçoam, os senadores decidiram votar contra as convicções de praticamente toda a nação. Ou seja a esmagadora maioria do povo brasileiro, tenho certeza, considera hoje o Senado não mais que uma furna de parasitas, larápios incompetentes, negociantes da honra, hipócritas inexcedíveis, aproveitadores descarados e uma despesa desnecessária para o país. O Senado, finalmente, conseguiu firmar seu processo de putrificação e assim cumpre sua parte no golpe. Tenho certeza de que, se não a maioria, parte muito significativa do povo brasileiro votaria ou sairia à rua pela extinção do Senado. Portanto, ele está cumprindo muito bem o seu papel no golpe, esforçando-se ao máximo para mostrar que só serve para atrapalhar e vai continuar a atrapalhar, envolvido em processos e dissensões, para daqui a pouca o presidente dizer, com geral concordância pública, que o Senado não o deixa governar. Dá-se um jeito, perfeitamente legal e com feroz apoio popular, de acabar com o Senado.

Depois, acabar com a Câmara de Deputados é mole.sabe qualquer um que, se cuspir no chão fosse hábito brasileiro para expressar desprezo e repulsa, nadaríamos num mar de saliva, pois seria o que aconteceria sempre que se falasse em deputado e senador. Na nossa História recente, a Câmara tem empreendido uma campanha sem quartel para tornar " deputado" e " político" xingamentos desses de reagir com um murro na cara e um progresso por difamação e injúria. O povo despreza todos eles com equanimidade (botem as raras exceções outra vez, é só para não me prenderem com muita facilidade - já basta que o responsável por tudo o que estou atacando sou eu mesmo, como integrante da famigerada mídia ) e muita gente tem de tomar um antiemético quando um deles aparece na TV. Transforma-se ( é fácil, é só dar um empreguinho aqui. Uma graninha lá, uma garota de programa acolá) a atual Câmara numa Assembléia Constituinte e aprova-se uma nova Constituição de truz. Nem é preciso trabalhar muito, porque a de 37 está aí mesmo, para ser copiada ou servir de modelo, retiradas as partes mais progressistas. A admiração do presidente Lula por Getúlio Vargas vai ficar bem mais fervorosa.

Renan Calheiros, à custa de enorme desgaste pessoal,desempenhou e certamente desempenhará bravamente sua parte ( não a sua parte em dinheiro, que nada disso está provado e é por fora - tirem esse bicho daí ). Está quase tudo feito para se demonstrar cabalmente que tanto o Senado federal quanto a Câmara de Deputados são desnecessários e mesmo perniciosos, simulacros descartáveis de verdadeiras instituições democráticas. Creio que a maioria dos senadores e deputados continuará colaborando, tendo à proa o brioso senador Aloísio Mercadante ( que falou por si e assim sacrificou a biografia pela causa, pois, como se coment..., quer dizer, como se sabe, o PT liberou os votos de todos os seus membros ) e aquela outra ora me escapa, uma que lembra uma recepcionista de gafieira com problemas sintáticos.

E finalizo com um elogio aos antigos e à sabedoria que atravessa os séculos. Tudo isso me veio à mente quando me fiz a velha pergunta romana, que tantos eventos já esclareceu: Cui prodest ? - a quem aproveita? A mim, no momento, só me ocorre um Grande Aproveitador. A você ocorre quem?"

SINA

Reestreou neste fim de semana no Brasil a trupe internacional de artistas reunidos sob a "lona" do afamado Cirque du Soleil.

Adivinhem só qual é a nacionalidade do palhaço.

sexta-feira, setembro 14, 2007

RESPEITO QUE SE CONSTRÓI

Quando o Deputado Fernando Gabeira retornou de seu exílio no exterior, nos início dos anos 80 e apareceu na Praia de Ipanema envergando uma minúscula tanga de crochê, achei que não haveria uma figura mais desprezível no país. Era um terrorista (anistiado), declaradamente homossexual e para culminar, um defensor da liberação das drogas, e nada mais precisava para que eu o relegasse ao limbo da minha desatenção.

Passou portanto ao largo de meu escrutínio sua militância no PT, terminada em outubro de 2003, por discordar da política ambiental do Mulá. Tal evolução pessoal não apenas o levou a integrar as fileiras do Partido Verde como salvou-o de estar no PT, quando da devastação moral ocasionada pelo episódio do mensalão. Da mesma forma, não acompanhei de perto sua trajetória no PV, ainda influenciado pelo seu currículo pretérito.

Qual não foi a minha surpresa quando, em setembro de 2005, admirei-me com sua atitude honrada, destemida e altamente gratificante (para um simples cidadão atormentado com o descalabro reinante da capital do Bananal, como eu), quando, no meio do Plenário da Câmara dos Deputados, postando-se ao microfone, levantou o dedo e apontou para o então presidente daquela casa, o caricato Severino Cavalcante, dizendo-lhe que não era digno de estar no cargo. Gabeira agigantou-se ao expressar ali naquele momento histórico e em alto e bom som, a indignação que perpassava toda a sociedade brasileira - excetuados, logicamente, os pares do Yoda tupiniquim e seus apaniguados.

A coragem de Gabeira, falando a alma do povo honesto e lascado contra as maracutaias perpetradas pelo Presidente da Camara dos Deputados - nada menos do que a terceira maior autoridade do país -, dizendo-lhe que envergonhava a todos com sua presença ali, entre outras verdades, soou-me como meu próprio grito e trouxe-me alguma esperança pelo que imaginava, seria um ato exemplar. Admirei-me, sobretudo, por sua atitude de “macho”. Não foi jamais secundado nessa atitude, por seus pares, infelizmente.

As suas atuações posteriores no Congresso, nadando, junto a uma minoria de gatos pingados – a quem eu chamaria de Os Honrados – contra as avassaladoras vagas das trocas de favores, faltas de decoro, mesadas e mensalidades financeiras ou funcionais, enormes e inúmeras maracutaias e outras putarias diversas, urdidas naquele mar de porcarias que é o Congresso de hoje, fizeram com que eu voltasse a prestar atenção em seu desempenho.

Com simples e intransigentes gestos em direção à seriedade, à honestidade de princípios e ao respeito à res publica, seu passado, se uma vez reprochável para mim, foi sumindo no horizonte das suas atitudes recentes.

Seu destemor em entrar no Senado para assistir à sessão que julgaria a qualidade da ética de Renan Calheiros, com olhos, ouvidos e boca atilados pelo respeito ao mandato que recebeu de seus eleitores, transformaram-no num herói que, ladeando e ladeado por Raul Jungmann, enfrentaram à polícia renanesca postada de modo a impedir-lhes acesso com um destemor de touros indomáveis. Sobrou até, desferido pelo deputado Gabeira, um "acidental" murro no Senador Tião Vianna, vice-presiden´te daquela Casa.

Mais uma vez, a coragem e a retidão de Fernando Gabeira sobrepuseram-se ao seu passado. Suas atitudes na defesa da legalidade, do bom trato à coisa pública e no devido cumprimento da lei fizeram dele, aos meus olhos, um herói.

A quem vou retribuir com meu voto. Ele me representará, acredito, como eu mereço. Sendo respeitado e não feito de palhaço.

quinta-feira, setembro 13, 2007

EX-SENADOR FRANCISCO DORNELLES

Foi com enorme pesar que me lembrei de ter votado em você, nesta manhã. Confesso que fiquei entre extremamente avexado comigo mesmo e totalmente decepcionado com você, pela tese engendrada na defesa, corporativa e covarde, dos cargos dos Senadores em futuras apurações de desvios de conduta, consubstanciada nesse grão-episódio do folhetim diário que vivemos nesta terra de ninguém, chamado de "Renan Calheiros e suas vacas", que engloba as de presépio, claro.

Talvez a sua capacidade de mimetismo tenha feito o trabalho. Talvez outros tantos eleitores, que votamos em você como o menos ruim dos candidatos do Rio ao Senado – é comum este tipo de escolha, neste país de tantos vagabundos – tenhamos nos iludido com a sua trajetória, como conhecida de nós (a oculta, só você sabe, quiçá a D. Cecília). Talvez, pela imagem de mínima seriedade que ostentava, até ontem.

O meu estarrecimento com o que você fez com o mandato que lhe dei causou-me profunda náusea. Estou sentindo-me péssimo com a escolha que fiz, haja vista sua atitude pusilânime, contra todos os princípios elementares de retidão e honradez que julguei que você poderia ter.

Fique claro, não foi a negociação da hora, não foi a composição do momento, não foi o acerto político ali proposto, nada disso. Sua traição maior foi moral, por agir como agiu. Apenas pela possibilidade de permitir que o Brasil continue na vergonhosa trajetória descendente, rumo ao abismo da mentira, do desrespeito, da desonra, da safadeza e da esperteza, dentre tantas coisas más ali sancionadas por sua tibieza.

Coisas essas que minam qualquer possibilidade de que nossos descendentes tenham ao que honrar, no futuro.

Você ajudou a devastar qualquer resquício de honorabilidade num cargo da envergadura do seu, ao qual, aliás, deve renunciar já, e em lhe restando alguma hombridade, em lágrimas verdadeiras e rôxo de arrependimento.

Com sua atitude travestido de Senador, no mais alto cargo legislativo do país (e o que deveria transmitir maior respeito à população), você afrontou-me e à minha família, a quem também indiquei o seu nome, compactuando com um dos piores escandalos morais do país, em tantos anos de República.

Assim, aviso-lhe que seu péssimo exemplo, a troco de não-sei-o-quê, o desqualifica em definitivo para continuar vindo ao Rio de Janeiro sem ser punido por sua desídia.

Procure, Dornelles, outras plagas onde possa se sentir normal pois, se encontrá-lo acidentalmente por aqui, terei o grande, o imenso prazer de cuspir em sua traiçoeira face. E fique certo, isso não será mera retórica.

Se eu fosse você, aproveitava e morria para os demais cidadãos, também. Quem sabe suas cinzas poderiam adubar algum pasto em Alagoas?

terça-feira, setembro 11, 2007

UMA CARTILHA PARA O PT

Nicolas Sarkozy, ao tomar posse, fez um discurso daqueles de cartilha do ensino elementar, que poucos petistas conseguiram completar, que serve como um guia simplificado de como as coisas ficaram confusas, claro que deliberadamente, depois de 1968 lá (e de 1973, aqui). A troca malévola do trabalho pela enganação, da competência individual pela vagabundagem em grupo, entre outras coisas que experimentamos aqui e agora, são mencionadas pelo dirigente como em vias de acabar, na França.
Em Lulalândia, resta-nos pensar positivamente, para que gente com letras, ligada ao partido do vosso presidente, lhe faça chegar tal mensagem. Vai que dá o azar dele entender?

"Vou reabilitar o trabalho"

Nicolas Sarkozy, presidente da França

Derrotamos a frivolidade e a hipocrisia dos intelectuais progressistas. O pensamento único é daquele que sabe tudo e que condena a política enquanto a mesma é praticada. Não vamos permitir a mercantilização de um mundo onde não há lugar para a cultura: desde 1968 não se podia falar da moral. Haviam-nos imposto o relativismo: a idéia de que tudo é igual, o verdadeiro e o falso, o belo e o feio, que o aluno vale tanto como o mestre, que não se podia dar notas para não traumatizar o mau estudante.

Fizeram-nos crer que a vítima conta menos que o delinqüente. Que a autoridade estava morta, que as boas maneiras haviam terminado. Que não havia nada sagrado, nada admirável. Era o slogan de maio de 68, nas paredes de Sorbonne: 'Viver sem obrigações e gozar sem trabalhar'.

Quiseram terminar com a escola de excelência e do civismo. Assassinaram os escrúpulos e a ética. Uma esquerda hipócrita que permitia indenizações milionárias aos grandes executivos e o triunfo do predador sobre o empreendedor.

Esta esquerda está na política, nos meios de comunicação, na economia. Ela tomou o gosto do poder. A crise da cultura do trabalho é uma crise moral. Vou reabilitar o trabalho.

Deixaram sem poder as forças da ordem e criaram uma frase: 'abriu-se uma fossa entre a polícia e a juventude'. Os vândalos são bons e a polícia é má. Como se a sociedade fosse sempre culpada e o delinqüente, inocente. Defendem os serviços públicos, mas jamais usam o transporte coletivo. Amam tanto a escola pública, mas seus filhos estudam em colégios privados. Dizem adorar a periferia e jamais vivem nela.

Assinam petições quando se expulsa um invasor de moradia, mas não aceitam que o mesmo se instale em sua casa. Essa esquerda que desde maio de 1968 renunciou ao mérito e ao esforço, que atiça o ódio contra a família, contra a sociedade e contra a República.

Isto não pode ser perpetuado num país como a França e por isso estou aqui. Não podemos inventar impostos para estimular aquele que cobra do Estado sem trabalhar.

Quero criar uma cidadania de deveres. Primeiro os deveres, logo após os direitos."