Quando o Deputado Fernando Gabeira retornou de seu exílio no exterior, nos início dos anos 80 e apareceu na Praia de Ipanema envergando uma minúscula tanga de crochê, achei que não haveria uma figura mais desprezível no país. Era um terrorista (anistiado), declaradamente homossexual e para culminar, um defensor da liberação das drogas, e nada mais precisava para que eu o relegasse ao limbo da minha desatenção.
Passou portanto ao largo de meu escrutínio sua militância no PT, terminada em outubro de 2003, por discordar da política ambiental do Mulá. Tal evolução pessoal não apenas o levou a integrar as fileiras do Partido Verde como salvou-o de estar no PT, quando da devastação moral ocasionada pelo episódio do mensalão. Da mesma forma, não acompanhei de perto sua trajetória no PV, ainda influenciado pelo seu currículo pretérito.
Qual não foi a minha surpresa quando, em setembro de 2005, admirei-me com sua atitude honrada, destemida e altamente gratificante (para um simples cidadão atormentado com o descalabro reinante da capital do Bananal, como eu), quando, no meio do Plenário da Câmara dos Deputados, postando-se ao microfone, levantou o dedo e apontou para o então presidente daquela casa, o caricato Severino Cavalcante, dizendo-lhe que não era digno de estar no cargo. Gabeira agigantou-se ao expressar ali naquele momento histórico e em alto e bom som, a indignação que perpassava toda a sociedade brasileira - excetuados, logicamente, os pares do Yoda tupiniquim e seus apaniguados.
A coragem de Gabeira, falando a alma do povo honesto e lascado contra as maracutaias perpetradas pelo Presidente da Camara dos Deputados - nada menos do que a terceira maior autoridade do país -, dizendo-lhe que envergonhava a todos com sua presença ali, entre outras verdades, soou-me como meu próprio grito e trouxe-me alguma esperança pelo que imaginava, seria um ato exemplar. Admirei-me, sobretudo, por sua atitude de “macho”. Não foi jamais secundado nessa atitude, por seus pares, infelizmente.
As suas atuações posteriores no Congresso, nadando, junto a uma minoria de gatos pingados – a quem eu chamaria de Os Honrados – contra as avassaladoras vagas das trocas de favores, faltas de decoro, mesadas e mensalidades financeiras ou funcionais, enormes e inúmeras maracutaias e outras putarias diversas, urdidas naquele mar de porcarias que é o Congresso de hoje, fizeram com que eu voltasse a prestar atenção em seu desempenho.
Com simples e intransigentes gestos em direção à seriedade, à honestidade de princípios e ao respeito à res publica, seu passado, se uma vez reprochável para mim, foi sumindo no horizonte das suas atitudes recentes.
Seu destemor em entrar no Senado para assistir à sessão que julgaria a qualidade da ética de Renan Calheiros, com olhos, ouvidos e boca atilados pelo respeito ao mandato que recebeu de seus eleitores, transformaram-no num herói que, ladeando e ladeado por Raul Jungmann, enfrentaram à polícia renanesca postada de modo a impedir-lhes acesso com um destemor de touros indomáveis. Sobrou até, desferido pelo deputado Gabeira, um "acidental" murro no Senador Tião Vianna, vice-presiden´te daquela Casa.
Mais uma vez, a coragem e a retidão de Fernando Gabeira sobrepuseram-se ao seu passado. Suas atitudes na defesa da legalidade, do bom trato à coisa pública e no devido cumprimento da lei fizeram dele, aos meus olhos, um herói.
A quem vou retribuir com meu voto. Ele me representará, acredito, como eu mereço. Sendo respeitado e não feito de palhaço.
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Há 3 anos
Um comentário:
Salve!!!
Agora, me diga, que confusão foi esta sr.???
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