sexta-feira, dezembro 07, 2001

O RABO DO MUNDO

É uma pena. Não bastassem as centenas de problemas que enfrentamos no país, ainda temos de conviver com um fato lamentável como o assassinato do "papa" do iatismo neozelandês e mundial, Sir Peter Blake, em território brasileiro.

A tragédia é dupla: o mundo perde uma figura exemplar, um grande campeão que, satisfeito com suas conquistas no campo esportivo, passara a dedicar-se à causa nobilíssima da preservação da natureza. Havia sido o escolhido para capitanear o navio de pesquisas Calypso II, de Jacques-Yves Cousteau, célebre explorador e pesquisador francês, que por sua vez, também serviu de exemplo positivo para milhões de jovens de todo o planeta; e o Brasil recua ainda uma vez perante o mundo todo, tendo sua imagem como "civilização" mais uma vez profundamente arranhada.

A despeito de todo o esforço feito para deixar a categoria de economicamente subdesenvolvido, mantendo-se entre as quinze maiores economias do mundo - fato devido muito mais à sua grandiosidade natural do que aos atos de seus governantes - a fome endêmica, a indigência educacional, a miséria política, a prostituição dos valores morais aliada à falta de exemplos vindos de cima, a perda da honra nacional (exceto quanto ao quesito "bundas", do qual a nação parece ainda se orgulhar, uma vez que nosso futebol já saboreia essa geléia podre de deploráveis valores) minam a imagem de nação alegre, gentil e calorosa que já ostentamos um dia.

A sensação de liberdade encontrada no Brasil, de costumes confortáveis e povo hospitaleiro, alardeados mundo afora como a imagem abençoada desta terra, está sendo substituída não apenas nas páginas de noticiário dos jornais e da internet, mas nos relatos boca-a-boca, cuja penetração é o que há de melhor, por uma sensação e um clima de barbárie, de ameaça à integridade física, de terror, enfim. País das bundas, estamos virando o ... rabo do mundo.

Todo o esforço no sentido de captar parte do turismo mundial, arisco com os acontecimentos de Nova Iorque e gerar renda com a recepção, no país, de visitantes de fora, vai por água abaixo num piscar de olhos, cada vez que um estrangeiro sofre uma violência em nossas terras. Se for alguém do calibre de Sir Peter Blake, isso significa vários anos de estagnação.

Cabe muita reflexão. E cabem reivindicações maciças por educação, cultura, saúde e segurança pública. Estamos precisando mostrar nossas garras, escrevendo para os jornais todos os dias e mostrar nossa indignação com o estado das coisas.

Uma participação muito mais efetiva da população, protestando pela mudança do "status-quo", pela recuperação da honra nacional.

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