terça-feira, julho 27, 2010

UBIRATAN PROFESSORE IORIO E A HONRA

A LEI DE MURICI E A PALAVRA DO MURICY...

Por Ubiratan Iorio em seu blog, em 26/07/2010

A frase “é tempo de murici, cada um cuida de si!”, conhecida de todos os brasileiros, foi pronunciada, segundo a tradição, pelo coronel Pedro Nunes Tamarindo, durante a Guerra de Canudos. Em Os Sertões, Euclides da Cunha relata que, com a morte do coronel Antônio Moreira César, a tropa ficou desarticulada e que Tamarindo a teria abandonado, temeroso de perder sua vida na batalha. Ao ser questionado por um subalterno, sua resposta foi a frase hoje famosa, mais comumente citada como "é a lei de murici, cada um cuida de si". O coronel foi abatido pouco depois, quando transpunha o Córrego do Angico e seu corpo foi recolhido pelos adeptos de Antônio Conselheiro, empalado e erguido em um galho, para desencorajar futuras expedições contra o arraial. A lei de murici é, então, um exemplo de falta de coragem, mau exemplo e egoísmo.

O murici é uma fruta típica do norte brasileiro. Mas o Muricy Ramalho é o atual técnico do Fluminense Football Club que, ao ser convidado pelo – ao que parece – eterno presidente da CBF para um dos cargos mais cobiçados no mundo do esporte, o de treinador da seleção brasileira de futebol, disse ao dirigente que aceitaria o convite, mas que, antes, precisava ser liberado pela diretoria do Tricolor, com quem tem assinado um contrato até o final deste ano e a quem já teria dado a sua palavra de que iria renová-lo até 2012. O tradicional clube das Laranjeiras não liberou o seu técnico. A CBF é uma entidade centralizadora, com poderes em demasia, contrária ao princípio da subsidiariedade. Seus cofres estão entupidos, enquanto seus filiados vivem à míngua. Exige exclusividade para os técnicos da seleção (que só têm trabalho mesmo durante as poucas competições oficiais, como a Copa América e a Copa do Mundo) e arrecada fortunas com amistosos sem propósitos realmente esportivos, contra equipes totalmente sem expressão. O Fluminense fez bem em dizer não à CBF!

Cheguei, enfim, ao fato auspicioso que pretendia ressaltar ao postar este pequeno artigo: Muricy, embora triste por não assumir a seleção, declarou que permaneceria no Fluminense, porque é um homem de palavra e, ademais, fazia questão de dar exemplo para os seus filhos de que a palavra empenhada tem um valor moral que nenhuma oferta, por mais milionária que seja, pode abalar. E na tarde do mesmo dia lá estava ele no campo da Rua Álvaro Chaves, comandando o treino de sua equipe!

Fiquei muito feliz com o desfecho do episódio, não simplesmente porque torço pelo Tricolor, mas, sobretudo, pelo belíssimo exemplo de respeito aos valores morais por parte do nosso treinador, nestes tempos em que palavra dada pouco significa, em que expressões como palavra de honra caíram em desuso e em que até mesmo a palavra escrita – impressa em contratos e firmada – é sistematicamente desrespeitada, a começar pelas promessas dos políticos. Como seria bom se o seu exemplo fosse seguido por todos!

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