domingo, junho 23, 2002

LEI DE TALIÃO

E aproveito, também do Globo de sábado, 22/6, os singelos, no sentido de diretos ao ponto, sem floreios, argumentos do ex-delegado SIVUCA, quanto ao status-quo da violencia no Rio, fruto da inação no passado, exceto quando a coisa extrapolou. Que é o que está ocorrendo HOJE!!!. E o homem entende...

Sem contemplação
por José Guilherme Sivuca, O GLOBO, 22/06/02

No auge dos anos dourados, quando os moradores das favelas e do asfalto ainda se olhavam sem medo e sem ódio, traficantes de tóxico tentaram uma nova estratégia para subjugar a sociedade. Instalaram o primeiro poder paralelo no Morro do Juramento, na Zona Norte do Rio.
A reação foi rápida. Em 1973, o Exército fechou os principais acessos enquanto policiais civis, a bordo de helicópteros, empurravam os criminosos para baixo: 64 traficantes foram presos e cinco morreram. Investimentos sociais substituíram a ação policial-militar, porque pequena parcela da sociedade reagiu à presença do Exército. Em conseqüência, novas quadrilhas invadiram o Juramento e, de lá para cá, já assassinaram mais de 500 pessoas.
Vinte anos depois, quando a polícia apreendeu o primeiro fuzil em poder de marginais no Rio, um novo crime abalou a opinião pública. O bando de Ada, que dominava o Morro da Providência, julgou, estuprou e esquartejou o corpo da detive Regina Coeli. O “julgamento” e a “sentença” tiveram como palco o Cruzeiro, onde as famílias faziam suas orações. Estava instalado o primeiro tribunal do poder paralelo condenando à morte a ré. Não faltaram, mais uma vez, os que indicaram as ações sociais como forma de resolver o problema da violência. Os índices de criminalidade continuaram crescendo no bairro da Saúde — berço do primeiro morro do Rio, o da Favela.
A memória curta da sociedade e a visão amadorística da autoridade com relação à violência impedem uma simples conclusão: os fatos de 1973 e 1992 já sinalizavam que os criminosos e traficantes ficariam mais ousados. Ao descobrirem sua força, passariam a enfrentar a polícia, a sociedade e outras instituições.
O brutal assassinato do jornalista Tim Lopes, com os mesmos requintes de crueldade da morte de Regina Coeli, mostra agora que esses monstros não se intimidam diante de uma forte instituição como a TV Globo.
Não se pode insistir na tese de que a solução para acabar com traficantes, seqüestradores e estupradores está na defesa dos seus direitos humanos.
Que diferença moral existe entre atirar contra um exército de inimigos que invade nosso país e atirar contra exército de bandidos que brutalizam trabalhadores? É por isso que eu afirmo: bandido bom é bandido morto.

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