Publico aqui, muito dentro do espírito do blog, a carta enviada por um afiado analista dos modos correntes à jornalista Miriam Leitão, com uma crítica coerente sobre as palavras lançadas em tom de certeza pelos mais diversos chutadores profissionais do país. Que são considerados no primeiro momento, como "oráculos" mas que quando erram fragorosamente, deixam tudo cair no esquecimento, sem cobrança de nenhuma espécie.
Aqui, no entanto, a gente mete o pau. E cobra, mesmo.
"Cara Sra. Miriam Leitão:
Economistas, jornalistas econômicos, palpiteiros, desocupados e outros, passaram meses me dizendo todo dia que o risco Brasil estava abalado pelo risco de colapso financeiro na Argentina, que nosso juros não poderiam ser baixados por este mesmo motivo, dentre outros. Fui obrigado a escutar todo este tipo de baboseira por meses a fio enquanto tais entendidos tentavam justificar o salário que ganham, desfilando todo um rol de razões para pessimismo com o futuro do Brasil em função da vizinha Argentina.
Bem, agora que a situação de caos financeiro e convulsão social chegou a um nível que nem mesmo o mais pessimista analista poderia imaginar, os efeitos do vírus de contágio platino não equivaleram nem mesmo a um simples "espirro" cá do nosso lado.
Em respeito a minha inteligência e a dos demais espectadores do panorama financeiro brasileiro, será que seria possível me explicar, afinal, qual era o motivo do pânico???
Por que os economistas não tem que ser cobrados, até mesmo judicialmente, por fazer afirmações levianas que só servem mesmo para manipulação do mercado financeiro? Pois afinal os mesmos economistas entrevistados na Globonews, Bandnews, etc, entregam de antemão os seus cenários catastróficos para os bancos, que já podem fazer posições ganhadoras nos mercados antes que as suas opiniões sejam divulgadas ao grande público, que, por sua vez quando se movimenta com 1 ou 2 dias de atraso não faz mais que dar liquidez à saída dessas mesmas posições, agora já devidamente lucrativas, que os bancos contratantes desses economistas fizeram na véspera?
Os economistas brasileiros têm que aprender noções de "accountability", ou seja, têm que prestar contas de suas declarações. Nos EUA e em países desenvolvidos existem ações na justiça contra análises temerárias que são tão pesadas que levam os bancos a fazerem acordos prévios com clientes antes de serem derrotados na justiça (caso por exemplo das indenizações que estão recebendo os clientes induzidos a aplicar dinheiro nas pontocom americanas sob influência dos histéricos analistas americanos na época áurea dos investimentos em internet). É lógico que aqui no Brasil, terra de palavras vazias, como as dos nossos políticos, a noção de "accountability" é tão tênue que parece até que eu estou sendo um chato de ficar lembrando desses detalhes. Porém acho que quem deveria estar mais preocupado com isso deveriam ser os próprios jornalistas, analistas financeiros e economistas pois são eles que estão perdendo a matéria-prima de seu ganha pão: sua credibilidade.
Outro exemplo, quando nada mais há para justificar comentários negativos visando a manutenção dos juros em patamares tão elevados, sou obrigado a assistir no Bom Dia Brasil, nesta mesma semana em que lhe escrevo, comentários sombrios sobre a "perigosíssima", "assustadora" e "preocupante" subida da expectativa de inflação em SP de 4,37% no ano para 4,42% no ano, ou qualquer coisa que o valha. Pasmem! Isso num país onde estávamos na casa de 80% ao mês apenas há alguns anos atrás, no governo dos monarcas maranhenses sarnentos. Caramba, devemos estar na Suíça para que tal desajuste da inflação cause tanta apreensão! Meu Deus, quanta baboseira, quanta gente que não tem o que fazer! Esses economistas deveriam ganhar enxadas e serem obrigados a prestar serviços forçados na agricultura para aprender o que é trabalhar a favor de um país!
Neste ponto, ganha estatura olímpica a figura do Sr. Joelmir Beting, único jornalista brasileiro a pautar seus comentários em seu bom-senso, despontando incólume em meio a todas as imbecilidades desfiadas pela mídia econômica e posteriormente desmentidas como de hábito.
Fazendo votos para que este assunto possa ser comentado em sua coluna, refletindo não mais que sua habitual corajosa postura em defender a clareza de idéias na discussão econômica do dia-a-dia deste nosso país, e torcendo para que V. Sa. possa voltar a ocupar sua coluna com assuntos mais importantes do que a Argentina; eu a saúdo, sinceramente, "
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Há 3 anos
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