quinta-feira, janeiro 31, 2002

CELSO DANIEL

Desde as primeiras notícias sobre o assassinato (foi isso o que foi) de Celso Daniel, e não sei bem porque, fiquei com um elefante atrás da orelha e os dois pés atrás do outro, com a figura do "empresário-amigo", que dirigia o carro e a quem nada aconteceu. Não me cheirou bem, a despeito de não ter contra esse indivíduo, nada mais do que uma prevenção etérea.

Mas o célebre Cesare Lombroso fez estudos importantes e acho que eu captei alguma coisa naqueles olhos de cachorro molhado do tal do Sérgio. Duas semanas depois, um articulista no JB, Cid Benjamin, publica o sóbrio e competente levantamento que transcrevo abaixo, que se não é conclusivo, me faz ficar cada vez mais desconfiado daquela figura.

Queiram apreciar suas colocações e me digam depois alguma coisa. Segue aí ó:

A trajetória sombria de Sérgio Chefe
Um mês antes de ser morto, Celso Daniel desarticulou esquema suspeito de corrupção na prefeitura de Santo André

por CID BENJAMIN - JB, 30/01/02

SÃO PAULO E SANTO ANDRÉ - Depois de participar da campanha que leva Celso Daniel pela primeira vez à prefeitura de Santo André, em 1988, Sérgio Gomes da Silva, o Sérgio Chefe é nomeado presidente da Defesa Civil do município. Organiza também a equipe de segurança pessoal do prefeito, com praticantes de artes marciais e ex-policiais. Eles devotam fidelidade quase canina ao mentor.
Na campanha seguinte de Celso, para deputado federal, em 1994 Sérgio ocupa posto estratégico. É o tesoureiro, uma tarefa vital em campanhas do PT, quase sempre carentes de recursos. Aproxima-se ainda mais de Celso. Da época vem também o estreitamento de suas relações com empresários da construção civil e de transporte em Santo André. Em 1996, Celso se elege pela segunda vez prefeito. Recebe 52% dos votos e ganha no primeiro turno. De novo, Sérgio é figura-chave, sempre como tesoureiro. É aceito dinheiro de empreiteiras e de empresários de transporte que mantinham negócios com a prefeitura. Não faltam recursos. Empossado o prefeito, para surpresa de muitos Sérgio Chefe prefere ficar fora da administração. Começa a trabalhar com Ronan Maria Pinto, dono de linhas de ônibus e empresário com negócios na prefeitura. Os dois se associam em outras empresas, fora de Santo André. Mas Sérgio faz de um íntimo aliado, Klinger de Oliveira Sousa, um super-secretário, responsável pelos setores de Obras e Transportes. Mesmo sem cargo formal, o Chefe mantém forte influência na administração, admitem petistas que lá trabalham até hoje. Seu poder é tanto que incomoda militantes, e os leva a se desligar da administração. A essa altura já crescem na cidade rumores sobre supostas ligações incestuosas de Sérgio Chefe com empresários envolvidos em negócios com a prefeitura, por meio da secretaria de Klinger. As notícias chegam aos ouvidos da cúpula petista. O dirigente nacional Gilberto Carvalho, homem de confiança de Luiz Inácio Lula da Silva e José Dirceu, é designado para trabalhar na administração municipal. Gilberto é nomeado secretário de Comunicação. Um quadro experiente, afeito ao diálogo e de estilo conciliador, poderia, para Lula e Dirceu, repor o trem nos trilhos sem grandes traumas. Os rumores, contudo, não arrefecem. Em 2000 o Ministério Pública começa a investigá-los. Envolvem as áreas de influência de Sérgio Chefe. A apuração não foi ainda concluída, mas se sabe por exemplo que, entre 97 e 98, Sérgio Chefe recebe R$ 270 mil do empresário Ronan Pinto como remuneração por consultoria nas áreas de transporte e limpeza urbana. Ronan ganhara um contrato no valor de R$ 13 milhões em licitação promovida pela secretaria de Klinger. Ao vir à tona, a informação sobre a remuneração do Chefe causa espanto a alguns. Afinal, ninguém conhecia seus atributos profissionais nas áreas de transporte urbano e coleta de lixo. Outros, porém, vêem a confirmação de que o Chefe faz mesmo tráfico de influência. Em 2000, Celso Daniel é reeleito com 72% dos votos. É o reconhecimento popular da gestão que mudara a imagem da cidade. Celso era competente especialista nas questões urbanas e Santo André se transformara em sua administração - isso até os adversários admitem. De novo, a tesouraria fica a cargo de Sérgio e não faltaram recursos. Klinger, o homem de Sérgio Chefe na administração, se elege vereador com uma campanha que, de tão rica, provocou ressentimentos em outros candidatos petistas. Sem tradição política na cidade, é o mais votado para a Câmara Municipal de Santo André. apesar disso, permanece secretário. O grupo de Sérgio apóia, ainda, outro candidato: Raulino Lima, um ex-metalúrgico, ex-integrante da comissão de fábrica da Volkswagem em São Bernardo, também eleito. Celso não chega a romper com o esquema de Sérgio chefe, como queria a direção nacional, mas dá os primeiros passos ao fortalecer seus adversários no secretariado. Dá a Gilberto Carvalho uma secretaria mais importante, a de Governo, e amplia os poderes da ex-mulher, Miriam Belchior, secretária de Administração. Miriam, odiada por Sérgio, que sempre a hostilizava, passa a ser uma super-secretária, acumulando a pasta de Inclusão Social. Ganha autoridade sobre projetos de outras áreas. Ela, na linha de frente, com estilo mais combativa, e Gilberto, mais diplomático, representam no primeiro escalão o contraponto a Klinger e ao grupo de Sérgio Chefe. Em meados de 2001, Celso Daniel é convidado a participar da coordenação da campanha de Lula e dirigir o grupo encarregado de montar o programa de governo. O convite incluía uma exigência: antes de se licenciar da prefeitura para se dedicar à campanha presidencial, deveria desarticular o esquema de Sérgio Chefe na administração. Pela primeira vez, então, Celso Daniel deixa de se equilibrar entre os dois extremos e começa a se afastar de Sérgio. Os golpes no esquema de Sérgio Chefe continuam. Seu homem-chave na prefeitura, Klinger, era preparado para suceder Celso. O caminho passava pelas eleições deste ano. Garantida a fartura de recursos na campanha, Klinger se elegeria deputado estadual. Raulino Lima, o outro vereador do grupo de Sérgio, concorreria a deputado federal. Dificilmente se elegeria, mas dividiria os votos petistas da cidade, impedindo a reeleição do único deputado federal do partido com base em Santo André, o Professor Luizinho. Se tudo desse certo, Klinger seria eleito com grande votação e Luizinho não renovaria o mandato. Assim, em 2004, o preposto do Chefe apareceria como o nome natural no PT para disputar a prefeitura. Em dezembro do ano passado, porém, o prefeito comunica que não aceitaria entre os secretários candidatos a deputado. É uma tática para bloquear os planos de Sérgio e Klinger. Pelo prestígio de Celso no PT de Santo André, tal posição tornava inviável a candidatura do secretário e jogava por terra a operação 2004, tal como imaginada pelo grupo de Sérgio. O próprio Klinger não disfarça a contrariedade em declarações a jornais locais. A relação entre Celso e Sérgio Chefe se azeda. Morto Celso, os mistérios se multiplicam. Muitos deles já têm foram temas de reportagens. Outros surgem a cada momento. Ao ser encontrado assassinado, Celso trajava roupa diferente da que vestia ao ser seqüestrado, e com a qual foi filmado, em companhia de Sérgio Chefe, no restaurante Rubayat. A namorada Ivone de Santana reconhece a calça do cadáver como sendo de Celso. Ou seja: alguém ligado aos assassinos tinha consigo a calça, ou foi buscá-la no apartamento de Celso depois do seqüestro. Nos dois casos, teria que ser íntimo do prefeito executado. No dia do velório, Sérgio estava internado numa clínica, sedado. Klinger não esperou o enterro para anunciar a mudança de planos. Em declaração publicada no dia seguinte (22/1/2001) no Diário do Grande ABC , diante de uma pergunta sobre a candidatura, responde: ''Estou emocionado e preciso refletir melhor. Mas é óbvio que essa decisão (de não mais se candidatar a deputado estadual) estava em um contexto pessoal do Celso que não existe mais. Tudo isso precisa ser analisado.''

quarta-feira, janeiro 23, 2002

POLÍCIA? ONDE?

É verdade, é verdade! Vocês tem razão, mas o tempo anda muito curto e não tenho tido tempo de postar nada.

Estava preparando algo sobre a falta de polícia e fui violentamente atropelado pelos fatos. Agora é tarde, há muita gente falando sobre o que eu sempre soube. Em algum lugar aí embaixo dá para ler que nosso maior problema de segurança no Brasil é a gente partir do princípio de que existe polícia. Engraçado, o JB de hoje relata, que ..."Garotinho insistiu em tomar para si os louros pelo desempenho positivo: garantiu que antes havia subnotificação dos casos e atribuiu a redução da criminalidade em sua gestão ao afastamento de policiais." Ou seja, a criminalidade no Rio baixou depois que ele dispensou policias do serviço. O que nos leva a pensar que, no limite, se dispensar todos, o problema está resolvido... Fantástico, não?
Outra pérola é do Maestríssimo Millôr: "Não existe crime organizado. Existe polícia desorganizada". Simples e genial.

Depois eu volto aqui para baixar uns cacêtes "around".

sábado, janeiro 05, 2002

HONRAR O QUÊ?

Olá. É chegado 2002, ano de eleições. O ambiente está enfumaçado, não se vêem bem as feições dos candidatos, sabe-se apenas que alguém deverá aparecer pelo lado do Governo para fazer frente ao candidato da esquerda burra, Lula, que de positivo talvez só tenha - note o condicional - algum resquício de integridade moral. A honradez de atos e princípios, que o PT tenta vender como seus atributos de base, não são suficientes para governar uma país, embora sejam elementos de grande interesse para uma vasta parcela da população brasileira, tão em falta deles.

Os demais "princípios" do PT não se aplicam a um mundo moderno e dinâmico como o de hoje. Extraindo-se de sua cartilha a preocupação com os menos aquinhoados, nada mais se aproveita. Suas propostas são tão lindas quanto inexeqüíveis, tão arrebatadoras quanto falsas em sua essência, e não cabem dentro do panorama atual por absurdamente atrasadas, retrógradas, viciadas. Até a China - um país "comunista-inteligente", por assim dizer - já entendeu que precisa de capital estrangeiro (se não o gera internamente) para financiar seu crescimento e então democratizar os benefícios. Foi, pelo segundo ano, o país que mais pagou "royalties" e enviou lucros ao exterior, sem que isso a impedisse de tornar-se a 6a. potência econômica do mundo, suplantando a Itália e estando em vias de engolir a França para obter o quinto posto. Comunismo prático de resultados. Num país sabidamente recheado de corruptos, principalmente nas hostes dominantes e comunistas, como só a China tem.

Mas a pretensa honradez do PT ainda seduziria muita gente boa aqui se fosse uma verdade absoluta, o que não acredito. Pois ninguém verdadeiramente honrado admitiria, por um momento sequer, relacionar-se, ou pior, espelhar-se, ou pior ainda, compactuar com um ditador como Fidel Castro, que a despeito da figura mítica e barbuda, boa para ilustrar fotos de revista, e sua verve estudada e poderosamente engabeladora, é apenas um tirano opressor que simplesmente assassina os conterrâneos dissidentes.

Então, é pau no Lula e no PT, por seu atraso indelével. E como diz um sábio conhecido, para ganhar qualquer eleição do Lula basta deixá-lo falar. Um microfone aberto, próximo a êle, enterra qualquer pretensão do partido... Nem precisa de repórteres fazendo perguntas.

Bem, toda essa volta foi dada para falar de honra, de honrar, da honradez. Pois acho que o que falta à nação brasileira hoje, antes de mais nada, é alguma coisa à qual honrar. Um verdadeiro sentimento, que talvez só seja forjado - no bom sentido, o siderúrgico - pela participação e/ou agregação do povo, em torno de uma forte causa comum, uma ameaça, uma guerra. Não temos, na verdade, o que honrar, não temos mais símbolos ou instituições nacionais dignos, foram todos desgastando-se com o tempo, as decepções ou com a morte. Uma das últimas unanimidades nacionais, Ayrton Senna, nos deixou e cai rapidamente no esquecimento deste nosso povo de curta memória.

Este "post" tomou forma na minha cabeça quando, ao visitar o blog da Cora Rónai hoje, fui enviado a um site de fotos digitais e deste para as fotos que o profissional americano Peter Turnley fez, após os ataques de 11 de novembro.


Achei que essas fotos mostram, inequivocamente, como o povo americano demonstra cabalmente ter ao que honrar, ter a quem honrar, e como faz isso de forma real, sentida, íntima, civicamente natural, ao render suas homenagens pessoais a quem as merece. Vale a pena dar uma olhada com calma. É um exemplo para todo e cada um de nós. Se puder, divulgue.