Há uma lenda na cidade de Salvador, BA, que conta como é que um certo muro branco, que separa a calçada do mar - o "malecón" soteropolitano - na via de maior fluxo de pessoas (e no meio destas, incontáveis turistas) permanece imaculadamente preservado em sua alvura, sem sinal de pichações, rabiscos, corações vazados por setas de amor e nomes dos casais, entre outras decorações próprias de muros e paredes do mundo todo.
E a lenda que justifica esse fato é tão simplória que dá até medo: diz-se que o Prefeito "loteou" trechos do muro entre moradores de rua, que ficam sendo os responsáveis por sua manutenção. Recebem para isso, além de tinta e pincel, uma subvenção mensal a título de ajuda de custo. Diz ainda a lenda que, entre os necessitados, sai porrada para se conseguir um pedaço de muro para cuidar, quando um "titular" fica impossibilitado por algum motivo. E ai de quem tentar sujar o "patrimônio" do indigente, que o "administra" 24 horas por dia. Leva, no mínimo, um belo susto quando o "dono do pedaço" chega perto para tomar satisfações. E, por fim, que esta expressão teria sido assim originada.
Com as enchentes que atingiram o Estado do Rio neste verão, ficou bastante visível, nas fotos publicadas por dias seguidos nos jornais, a quantidade brutal de garrafas e outras embalagens de plástico em geral, carregadas pela enxurrada para locais aos quais não pertenciam.
Há em curso hoje no Rio, um programa mais ou menos ordenado de coleta de latas de alumínio. É comum vermos pessoas de baixa renda disputando-as na praia, em eventos ao ar livre, no entorno dos estádios, etc.. Isso rende-lhes algum dinheiro oriundo, mais do que provavelmente, de empresas produtoras dessas embalagens, que as reciclam.
Então acho que é mais do que chegada a hora dos governo, estadual ou municipal, não interessa qual deles, criar uma atividade de coleta organizada, de maneira que o povo que vive na rua, desempregado, ou qualquer pessoa de baixa renda em busca de uma complementação financeira, possa trabalhar recolhendo essas embalagens plásticas em troca de grana.
O benefício é imediato, não apenas para o meio-ambiente (visto que tais embalagens levam até 100 anos para degradar-se na natureza) mas principalmente para essa parcela desassistida do povo, que passa a ter um tipo de trabalho que não requer treinamento e sai da eventual possibilidade de delinqüência, que é facilitada pelo ócio improdutivo.
Se não couber reciclagem desse material, que geraria algum subsídio das empresas produtoras, ainda assim o gasto dos governos com um programa desse tipo é mínimo, se comparado aos benefícios que proporciona.
E, quem sabe, num futuro próximo, poderemos também dispor de uma boa lenda sobre o Rio de Janeiro, para contar aos nossos netos.
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Há 3 anos
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