Historicamente, traidores sempre foram desprezados, achincalhados, atacados e, na grande maioria das vezes, pagaram com suas vidas pelos seus atos de traição, sua ignomínia. Podem até passar por Cortes formais (ou não) - militares, pelas Marciais; civis, pelas de Justiça; malandros, pelo Microondas - mas seu destino final quase sempre foi o mesmo. Via de regra, a morte física. Ou aquela pior ainda, causada pelo desprezo a ser carregado perante seus pares pelo resto de suas vidas.
Há apenas um país no mundo em que essa tradição não se confirma. Lá crescem árvores que dão jaboticabas.
Lá, igualmente, os sistemas de corrupção se aperfeiçoaram de tal forma que, em qualquer âmbito, tanto no Governamental ou no mais rasteiro esquema da pior bandidagem de traficantes, assassinos, estupradores, proxenetas, etc., só quando um [dito] "traidor" faz o que no resto do planeta é considerado desprezível - ou seja, trair o seu grupo - é que se consegue ter a verdadeira dimensão dos crimes que ali permeiam a vida cotidiana.
Não é senão quando um Eriberto (o motorista do Collor), um Francenildo (o caseiro do Palloci), uma Fernanda Somaggio (a secretária de Marcos Valério, cujo pai foi "assaltado" e "suicidado" em SP), uma Vanuza Sampaio (a advogada que denunciou a mega-roubalheira na ANP, até agora sem efeitos práticos), e o ainda desconhecido ex-auditor fiscal (da Secretaria da Receita em Osasco/Sorocaba), vêm à luz para dizer BASTA, é que passamos a saber das tramóias monumentais, travestidas de aparatos para "arrecadação de recursos para campanhas políticas", como costumam dizer os macacos pegos com as bocas, mãos, pés e patas nas cumbucas.
Note-se como os escandalos mais recentes apenas espelham a vastíssima rede de desenfreada corrupção, em marcha logo após a tramitação preferencial da tríade sagrada, Emenda, Liberação e Empenho, e que a cada dia obliteram a visibilidade dos imediatamente anteriores, numa procissão infinita de crimes que faz com que a Camorra pareça a creche da Sociedade Pestalozzi.
Sempre ouvi a piada de que "mamatas" eram "aqueles bons negócios para os quais não somos chamados". Agora, nós somos. Só que com o detalhe sórdido: para contribuir com o nosso imposto, para arcar com a conta. Ou seja, nessas monumentais surubas pelas quais pagamos, entramos apenas com as nossas solenes bundas de contribuintes.
Só num país como o nosso, atrofiado moralmente e corrompido de alto a baixo, onde praticamente inexistem exemplos de comportamento digno, é que os ditos "traidores", "alcaguetes", "X-9s", "traíras", "ratos", (escolham o pior e mais deplorável adjetivo com que lhes brindam suas quadrilhas) são, na verdade, os heróis de nossa História, por sua coragem de pura e simplesmente contar a verdade. Aí vemos com clareza a aterradora corrupção moral e a face medonha do que nos envolve como cidadãos.
Então, que mais e mais "traidores" apareçam, para serem ouvidos, e em tudo louvados.
E se um dia disseram que este não era um país sério, foi só porque o autor da frase não teve a oportunidade de ler um jornal qualquer depois do ano de 2002.
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Há 3 anos
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