sábado, junho 08, 2002

REAGINDO ENQUANTO HÁ TEMPO


Pouco antes de morrer há 5 anos, meu pai transferiu-me sua coleção de armas. Coleção essa composta de 3 carabinas enferrujadas, uma delas do tempo da guerra da secessão americana, mais duas garruchas imprestáveis e um rifle calibre 22, a única arma ainda em condições de tiro. Por conta desse "arsenal", para cumprir a lei em vigor e não ser preso de forma inafiançável, preciso pagar anualmente uma taxa de valor considerável e renovar minha "licença de colecionador", via um custoso despachante especializado, sem o qual não a conseguiria senão à custa de dias em filas e muita, muita paciência.
Como parte do processo o Ministério do Exército ainda envia à minha casa, o "local de guarda" da coleção, em dia e hora marcados, um sargento que procede à vistoria das armas. Uma vez satisfeitas todas as exigências, que ainda incluem todas as certidões negativas disponíveis nos cartórios e dezenas de cópias carimbadas, autenticadas e assinadas pelo bispo, fico quite com meu dever cívico. E nossa maior Arma passa então a deter, atualizado, todo esse precioso conhecimento sobre meu potencial bélico. Um primor de cuidados.

Enquanto isso, em qualquer morro ou favela das grandes cidades brasileiras há, em poder de bandidos, armas modernas de todo e qualquer tipo, modelo, alcance, origem, calibre e poder de destruição, adquiridas por contrabando, nas barbas das polícias locais, da Polícia Federal, da Receita Federal -nossa autoridade aduaneira- e muito mais grave e principalmente, nas de nossas Forças Armadas. Armamento que gera um lucro extraordinário aos peixes graúdos que controlam seu fornecimento. E que a um pedido dos compradores, em sua maioria traficantes detentores de recursos abundantes, entregam, em casa, as mais modernas armas disponíveis pelo mundo afora, o que transforma esses ratos numa força com capacitação bélica extraordinária, com o que há de melhor em armamento leve, semi-pesado e mesmo pesado. Recentemente, noticiaram os jornais cariocas que numa incursão tática para a conquista de um morro dos inimigos, a qual não sei porque me lembrou Monte Castelo, havia, montada num tripé na caçamba de uma camionete, uma metralhadora de grossíssimo calibre. Uma arma de guerra.

Cada vez que se propugna pela atuação das Forças Armadas contra o tráfico, expressão mais visível, temida e violenta da criminalidade, a resposta vem no diapasão de que não faz parte das suas atribuições constitucionais atuar contra o crime comum -como se alguém pudesse achar comuns os bárbaros crimes que assolam as vidas dos brasileiros. Então, se o motivo "crime comum" não é suficiente, está na hora de nosso Exército cumprir a mesma lei que serve para os demais cidadãos. E mandar todos os seus sargentos e tenentes e capitães e majores nas casas dessa gente, de preferência sem hora marcada, para verificar se as coleções de armas deles estão "regularizadas". E "confiscar" imediatamente as irregulares, tudo dentro do melhor espírito dessa lei. Afinal, não compete essa tarefa ao Exército?

Faz-se necessário, imperativamente, deixar de agir como se não houvesse esse enorme problema se agravando a cada instante. Exército, Marinha e Aeronáutica, com ou sem o apoio de polícias de qualquer nome, têm de recuperar o quanto antes o terreno perdido. Se o atual sistema de defesa não consegue impedir a entrada de armas, tem a obrigação de "controlá-las" no destino.

O que não se pode mais é tolerar a existência de um moderno exército (treinado inclusive através da proficiência de ex-paraquedistas, contratados pelo tráfico logo após dispensados de suas corporações), munido com a última palavra em armamentos e ainda de vasto poder aquisitivo, dentro de nossas fronteiras, das nossas cidades, de nossas vidas enfim, de braços cruzados.

Em recente entrevista na TV, o Ministro da Justiça defendeu em seu discurso a proibição da venda de armas, como uma das formas de se diminuir a criminalidade e a violência endêmicas no país.

Ouso discordar veementemente. Pois se um cidadão hoje procura comprar uma arma num estabelecimento regularizado, estará em busca de uma solução, não de criar novos problemas. Talvez ele pretenda se matar, seja por causa de dívidas que não consegue pagar -há uma parcela cada vez menor de pessoas de caráter que fariam isso, mas há- seja por ter descoberto que era traído(a) pela(o) amada(o). Mas, mais do que provavelmente, estará procurando essa arma PARA DEFENDER-SE E À SUA FAMÍLIA contra ladrões, seqüestradores, assassinos, traficantes e estupradores, entre outras categorias de malfeitores que infernizam o nosso cotidiano, coisa que as forças legalmente constituídas não conseguem fazer. Não me permito, senhor Ministro, por um único segundo sequer, admitir que bandidos comprem armas em lojas.

Está na hora de agir com vigor. Os melhores estrategistas das três forças militares, em conjunto ou não com as demais forças legais, devem iniciar incontinenti o plano de suas vidas (e das de nossos filhos e netos). Usando toda a sua inteligência e preparo de suas formações em nossas excelentes Escolas Militares, orgulho de todos.

E então, trabalhar duro nessa missão que permitirá honrar seus pais, seus mestres, seus superiores, seus filhos, seus comandados e toda a nação brasileira, através de uma reação enérgica aos ferimentos promovidos diuturnamente pela bandidagem, principalmente em nosso orgulho próprio.

E sem dar ouvidos, por um só instante, aos discursos basbaques que falam em respeitar direitos humanos de bandidos que, de maneira animal, ceifam, sem dó nem piedade, cada vez mais vidas de brasileiros inocentes.

É agir agora ou nunca mais.

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