Transcrevo abaixo, por ter tudo a ver com o espírito do Daily Speaker, mais uma opinião cujo cunho tem como fundo a praticidade nas ações, publicada no Jornal do Commercio de hoje.
Devaneios filosóficos
por Fernando Orotavo Junior - Advogado
Foi com enorme satisfação que nós, os cariocas, lemos nos jornais que o nosso alcaide pretende propor que a segurança da Cidade seja deslocada da esfera estadual para a esfera municipal. O motivo da euforia coletiva se prende naturalmente ao fato de que, enquanto os cofres estaduais estão vazios, segundo a governadora, os da Prefeitura estão abarrotados com mais de R$ 2 bilhões, no dizer do nosso secretário de Fazenda. Afinal, é cediço que a gravidade da situação de insegurança coletiva no Rio só será resolvida com muito dinheiro, eis que veículos, aparelhagens e armas, pelo menos de potência semelhante às possuídas pelo chamado poder paralelo, custam caro e são absolutamente necessárias.
É verdade que a aquisição desses equipamentos, somada a um também necessário incremento de pessoal, por si só não resolverá o problema, quando muito o amenizará. Porém é certo que outras medidas, se tomadas com coragem, e que também custam uma fortuna, podem ser adotadas. Já que é quase impossível atender ao desejo majoritário, indicado em recentíssima pesquisa publicada nos jornais, de implementar a pena de morte, que tal começar por listar todos os criminosos soltos - assassinos, assaltantes a mão armada, estupradores, aqueles que perpetram hodiernamente crimes hediondos contra a vida - e colocar cartazes com seus nomes e fotos oferecendo régia recompensa pelos mesmos, do tipo "procura-se vivo ou morto"? Isto deu certo em muitos lugares - especialmente em sociedades do dito primeiro mundo.
Auto-eliminação. Seria bom também que os recebidos vivos pudessem ser presos em presídios em companhia de bandidos de facções rivais, para que eles próprios tratassem de se auto-eliminar por critérios que livremente pudessem adotar. Façam as contas senhores: a R$ 20 mil por cabeça poderíamos excluir de nosso convívio cerca de 10 mil meliantes de alta periculosidade, gastando apenas 8% do caixa da Prefeitura. Isso sem falarmos na melhoria de vida de todos nós e das pessoas de bem hoje desempregadas que poderão se engajar no programa "ganhe dinheiro prendendo bandidos".
Inúmeras outras providências podem ser tomadas para viabilizar os cariocas o direito de ir e vir, de transitar em segurança pelas ruas, de sair de trás das grades em que estamos confinados em nossas próprias residências, de ir à praia ou ao cinema, de viver enfim com normalidade. Basta criatividade e verbas. O problema da nossa segurança deve sim ser assumido por quem se diz disposto a agir, tem recursos para tal e tem certeza de que não precisa de "milagres" para obter êxito.
O primeiro mandatário que reduzir drasticamente os índices de criminalidade em qualquer rincão do País, por certo, terá o reconhecimento perene dos cidadãos. Primeiro, porque não agüentaremos mais por muito tempo este estado de coisas. Segundo, porque já vimos este filme antes, muito recentemente, quando o prefeito Giuliani instituiu a "tolerância zero" na cidade de Nova York, tornando-a, em pouco tempo e pelos anos que a administrou, a megametrópole mais segura do mundo.
Vamos deixar de hipocrisia, de berrar por direitos humanos, de rotular medidas que podem resolver de "politicamente incorretas". Vamos deixar de ser ingênuos e fazer força para entender que nós, os cariocas, como um todo, estamos vivendo em estado de calamidade. E, guerra é guerra, e só a venceremos com ações efetivas, não com devaneios filosóficos. Queremos menos falatório e mais ação. Vamos exigir que as autoridades se empenhem verdadeiramente para nos devolver a paz, a tranqüilidade e a alegria, nossa forma tradicional de viver. Vamos parar de caminhar pela paz e passar a fazê-lo pela guerra. Afinal, ela já começou e parece que poucos perceberam.
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Há 3 anos